Fonte: International Monetary Fund (IMF) |

Conselho de Administração do Fundo Monetário Internacional (FMI) conclui 2019 Artigo IV Consulta com Cabo Verde

A situação macroeconómica de Cabo Verde melhorou consideravelmente nos últimos anos e as perspetivas são positivas, apesar dos riscos de deterioração

O crescimento económico tem sido robusto e está projetado para 5 por cento em 2019, enquanto a inflação deve manter-se baixa

WASHINGTON D.C., Estados Unidos da América, 18 de julho 2019/APO Group/ --

Em 15 de julho de 2019, o Conselho de Administração do Fundo Monetário Internacional (FMI) concluiu a Consulta do Artigo IV [1] com Cabo Verde.

A situação macroeconómica de Cabo Verde melhorou consideravelmente nos últimos anos e as perspetivas são positivas, apesar dos riscos de deterioração. O crescimento económico tem sido robusto e está projetado para 5 por cento em 2019, enquanto a inflação deve manter-se baixa. O défice orçamental recuou de 4,6 por cento do PIB em 2015 para 2,8 por cento do PIB em 2018 e deve encerrar 2019 em 2,2 por cento do PIB. A previsão é que os riscos orçamentais gerados pelas empresas públicas deficitárias diminuam, como reflexo do impacto das reformas adotadas em 2018 e no início de 2019, nomeadamente a privatização da companhia aérea nacional, e de medidas adicionais visando a reestruturação das empresas públicas previstas para 2019-20. A posição externa deve reforçar-se ainda mais, com as reservas internacionais permanecendo em um nível superior a cinco meses das importações futuras de bens e serviços. O risco de sobreendividamento externo e global de Cabo Verde é considerado alto e manteve-se inalterado em relação à Análise da Sustentabilidade da Dívida de 2018 realizada por técnicos do FMI e do Banco Mundial.

Avaliação do Conselho de Administração [2]

Os Administradores concordam com a tónica da avaliação do corpo técnico. Cumprimentaram as autoridades pela agenda de reformas económicas e políticas sólidas que sustentaram uma melhoria significativa da situação macroeconómica nos últimos anos, conforme evidenciado pelo crescimento mais elevado, a contínua inflação baixa e a melhoria das posições orçamental e externa. A perspetiva é favorável apesar dos riscos existentes e os Administradores sublinharam a necessidade de reformas estruturais contínuas e sustentadas, para além de políticas macroeconómicas prudentes para lidar com os desafios significativos que advêm da dívida pública elevada, da falta de diversificação económica e da vulnerabilidade a catástrofes naturais.

Os Administradores saudaram o pedido de um Instrumento de Coordenação de Políticas (PCI na sigla em inglês) e consideraram que o programa de política económica e financeira das autoridades acentuaria a estabilidade macroeconómica e promoveria o crescimento inclusivo sustentado. Salientaram que o bom desempenho ao abrigo do PCI desempenharia um papel importante de sinalização do compromisso das autoridades para com políticas sólidas e reformas para lidar com os desafios de desenvolvimento do país.

Considerando o elevado nível da dívida e o alto risco de sobre-endividamento, os Administradores sublinham a necessidade de esforços sustentados de consolidação orçamental. Neste contexto, sublinharam que a melhoria sustentada na mobilização de receita – mediante o combate à evasão fiscal, a ampliação da base tributária e a simplificação das isenções – e a contenção continuada de despesas são essenciais para preservar os ganhos consideráveis alcançados nos últimos 3 anos e criar espaço orçamental para despesas prioritárias. Destacaram, em particular, que a eliminação de transferências orçamentais e novas reformas das empresas públicas (EP) são necessárias para reduzir riscos orçamentais e salvaguardar a sustentabilidade da dívida.

Os Administradores observaram que a paridade fixa com o euro é útil para o país. Reconheceram que no ambiente atual de inflação baixa e nível suficiente de reservas internacionais, a atual política monetária acomodatícia continua a ser adequada. Observaram, porém, que o banco central (BCV) deve continuar a monitorizar desdobramentos na economia mundial e estar pronto para tomar qualquer medida corretiva que se faça necessária. Os Administradores saudaram as medidas tomadas recentemente pelo BCV para melhorar o mecanismo de transmissão de política monetária e os esforços para aprimoram as comunicações sobre a orientação dessa política. Os Administradores sublinharam a melhoria da posição externa de Cabo Verde e observaram que a mudança da Avaliação da Estabilidade Externa do corpo técnico em relação ao último ano decorre do uso duma abordagem metodológica adicional.

Os Administradores saudaram a melhoria dos indicadores de estabilidade financeira e pediram que fossem tomadas medidas para reduzir o nível elevado de empréstimos malparados. Incentivaram o BCV a manter a melhoria da supervisão bancária, a avançar na preparação dum sistema de informação de crédito para facilitar a avaliação da solvência dos bancos e a trabalhar com os bancos sobre a recuperação de garantias, em especial para empréstimos legados. Também saudaram os esforços adicionais para melhorar o quadro de Combate ao Branqueamento de Capitais e Financiamento do Terrorismo (CBC/FT).

Os Administradores destacaram a importância de se avançar de forma contínua na implementação de reformas para melhorar o ambiente empresarial. Destacaram, em particular, a necessidade de se avançar mais nas reformas das EP, aprimorar a monitorização da sua situação e desempenho financeiros e na implementação de medidas de apoio ao desenvolvimento de pequenas e médias empresas. Apelaram à introdução de medidas para facilitar o acesso a financiamentos, em especial com a criação dum registo central de garantias móveis, para aumentar a literacia financeira por meio de formação e criar aptidões através da expansão do acesso a escolas profissionais.

Tabela 1. Cabo Verde: Indicadores Económicos Selecionados, 2015–24

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

2022

2023

2024

Prel.

Proj.

(Variação percentual anual)

Contas nacionais e preços 1/

PIB real

1,0

4,7

4,0

5,5

5,0

5,0

5,0

5,0

5,0

5,0

Deflator do PIB

1,7

-0,2

0,5

1,4

1,5

1,6

1,6

1,8

1,8

1,8

Índice de preços no consumidor (média anual)

0,1

-1,4

0,8

1,3

1,2

1,6

1,6

1,8

1,8

1,8

Índice de preços no consumidor (fim do período)

-0,5

-0,3

0,3

1,0

1,0

1,6

1,6

1,8

1,8

1,8

Setor externo

Exportações de bens e serviços

-11,6

9,5

11,5

13,3

8,9

10,0

11,2

11,2

11,2

11,2

D/q: turismo

2,0

6,9

14,5

3,5

8,1

9,8

11,2

11,4

11,4

11,4

Importações de bens e serviços

-12,3

10,3

17,2

8,0

8,7

8,7

8,7

8,7

8,7

8,7

(Variação percent. da massa monetária em sentido amplo, 12 meses antes)

Moeda e crédito

Ativos externos líquidos

4,0

6,1

1,3

-2,1

2,0

2,8

2,4

2,6

3,3

3,1

Ativos internos líquidos

2,3

2,3

5,2

3,5

5,0

3,5

3,6

3,8

3,1

3,3

Créditos líquidos concedidos ao Governo Central

-0,2

2,5

1,5

4,3

0,6

0,2

0,2

0,4

0,1

0,2

Crédito à economia

1,8

2,4

4,4

1,9

3,0

3,3

3,4

3,5

3,6

3,6

Massa monetária em sentido amplo (M2)

6,2

8,4

6,5

1,4

7,0

6,3

6,0

6,4

6,4

6,4

(Percentagem do PIB, salvo indicação em contrário)

Poupança e investimento

Poupança interna

35,6

33,2

31,7

32,3

32,7

32,8

33,4

34,2

34,7

35,4

Governo

0,7

-0,7

0,8

1,8

2,3

2,3

2,7

3,2

3,6

3,7

Privados

34,9

34,0

30,9

30,4

30,5

30,6

30,6

31,0

31,1

31,7

Investimento nacional

38,7

37,1

38,3

36,7

36,9

36,9

37,4

38,1

38,3

39,0

Governo

5,6

3,4

5,7

4,4

5,1

4,3

3,4

3,7

3,9

4,0

Privados

33,2

33,8

32,6

32,3

31,8

32,6

34,0

34,3

34,4

35,0

Saldo poupança-investimento

-3,2

-3,9

-6,6

-4,5

-4,2

-4,1

-4,1

-3,9

-3,6

-3,6

Governo

-4,9

-4,1

-4,9

-2,6

-2,8

-2,0

-0,7

-0,5

-0,4

-0,3

Privados

1,7

0,2

-1,7

-1,9

-1,3

-2,0

-3,4

-3,3

-3,3

-3,3

Setor externo

Conta corrente externa (incl. transf. oficiais)

-3,2

-3,9

-6,6

-4,5

-4,2

-4,1

-4,1

-3,9

-3,6

-3,6

Conta corrente externa (excl. transf. oficiais)

-6,6

-6,6

-10,3

-7,2

-7,5

-7,1

-6,0

-5,6

-5,2

-5,1

Balança de pagamentos global

2,2

5,5

-0,9

0,5

3,6

2,6

2,8

2,9

3,1

2,9

Reservas internacionais brutas (meses de import. futuras de bens e serviços)

6,0

6,1

5,5

5,1

5,3

5,3

5,3

5,3

5,4

5,4

Finanças públicas

Receitas

26,9

26,6

28,6

28,1

31,7

30,4

28,9

28,8

28,8

28,8

Receitas fiscais e não fiscais

24,4

23,9

24,9

26,7

28,9

28,5

28,0

27,9

28,0

28,0

Donativos

2,5

2,7

3,7

1,4

2,8

1,9

0,9

0,8

0,8

0,8

Despesa

31,4

29,6

31,5

30,9

33,9

31,8

30,1

29,8

29,7

29,6

Saldo primário

-2,0

-0,5

-0,4

-0,3

0,7

1,0

1,2

1,2

1,2

1,2

Saldo global (incl. donativos)

-4,6

-3,0

-3,0

-2,8

-2,2

-1,5

-1,2

-1,0

-0,9

-0,8

Outras responsabilidades líquidas (incl. concessão de empréstimos)

-3,2

-3,4

-0,4

-1,0

-4,3

-2,2

-0,9

-0,2

-0,2

-0,2

Financiamento total (incl. concessão de empréstimos e capitalização)

7,8

5,6

4,0

3,8

6,5

3,7

2,1

1,3

1,1

1,0

Crédito interno líquido

1,2

2,9

0,2

1,4

1,0

0,4

0,4

0,7

0,1

0,4

Financiamento externo líquido

6,7

2,7

4,0

1,5

5,5

3,3

1,7

0,6

1,0

0,6

Stock e serviço da dívida pública

Total da dívida pública nominal

126,6

128,4

127,0

123,9

121,4

116,8

111,0

104,6

98,5

92,7

Dívida pública externa

97,7

96,7

94,9

91,0

89,3

86,3

82,1

77,0

72,7

68,2

Dívida pública interna

29,0

31,7

32,1

32,9

32,1

30,5

28,9

27,6

25,9

24,6

Serviço da dívida externa (% das exportações de bens e serviços)

6,4

6,0

6,3

5,8

7,6

6,8

7,4

7,9

7,4

6,8

Valor atual da dívida externa PGP

Percentagem do PIB (limiar de risco: 55%)

61,9

64,0

62,4

60,1

56,8

54,0

51,0

Percentagem das exportações (limiar de risco: 240%)

126,6

128,2

121,4

112,2

101,9

93,2

84,6

Valor atual da dívida total

Percentagem do PIB (referência: 70%)

97,2

95,8

92,7

88,8

84,3

79,7

75,4

Por memória:

PIB nominal (mil milhões de escudos de Cabo Verde)

158,7

165,8

173,4

185,6

197,8

211,1

225,3

240,9

257,5

275,2

Reservas internacionais brutas (milhões de euros, fim do período)

453,3

536,2

522,7

531,1

596,6

645,8

704,1

767,2

838,7

911,3

Fontes: Autoridades cabo-verdianas e estimativas e projeções do corpo técnico do FMI.

1/ A taxa de câmbio cabo-verdiana está indexada ao euro desde 1999, à taxa de 110,265 CVE/€.


[1] Ao abrigo do Artigo IV do seu Convénio Constitutivo, o FMI mantém discussões bilaterais com os seus países membros, normalmente com uma periodicidade anual. Uma equipa de especialistas visita o país, recolhe informações de natureza económica e financeira e discute com as autoridades a evolução da economia e as políticas económicas do país. De regresso à sede do FMI, os especialistas elaboram um relatório que constitui a base para as discussões do Conselho de Administração.

[2] Concluídas as discussões, a Diretora‑Geral, na qualidade de Presidente do Conselho, resume os pontos de vista dos Administradores, e este resumo é transmitido às autoridades do país. A ligação a seguir contém uma explicação dos principais qualificadores empregados nos resumos: http://www.IMF.org/external/lang/portuguese/np/sec/misc/qualifiersp.pdf.

Distribuído pelo Grupo APO para International Monetary Fund (IMF).